quarta-feira, 3 de março de 2010

The Smoke Issue


Aqui em Valencia isso me tira do sério. Se em Florianópolis eu já achava ruim, imagina essas situações de dicarro aqui em Valencia. Acontece que até poucos anos, se podia fumar em todo e qualquer lugar. Inclusive em hospitais, onde os efermos eram permitidos de fumarem. Parece que baixou-se uma lei que restringia o uso do cigarro a certos lugares, mas não me pergunte quais. Aqui se fumam dentro de todos os lugares que no Brasil se imaginaria uma atitude chata. Aqui ao invés de ter placas de proibido fumar nos bares e restaurantes, se diz: Ambiente amigo do cigarro. Tu entra pra comer na p* de um restaurante e sai de lá como se tivesse ido pra balada mais fedorenta de todas, isso se é que conseguiu ficar tempo suficiente pra desfrutar de um delicioso TAPAS à lá Cigarrillos. Andei me informando e foi sancionada uma lei municipal - ou provincial, vai saber – que diz que o cigarro não poderá ser consumido dentro de ambientes fechados. Acho totalmente válido. A seguir exemplos brasileiros, como que começou no estado de São Paulo e já está instaurado no Paraná. Nesses dois estados não se pode fumar nem sob marquises, que aqui são consideradas como espaços não totalmente a céu aberto. Aqui sim, a qualidade de vida certamente sobe. Além de ser um puta sinônimo de desenvolvimento (econômico e intelectual), isso se transforma numa atitude de saúde pública, onde os não fumantes deixam o título de fumantes passivos e podem desfrutar de uma infinidade de ambientes tranquilamente sem se incomodar. Bem que Santa Catarina, que se diz deter os melhores IDH’s do Brasil podia adotar medidas semelhantes. Eu que achei que Europa, primeiro mundo e tal, fosse ser diferente...

Dominguera de Sol

Um agradável dia de sol tá difícil por aqui. Sol mesmo só no domingo, porque sábado segunda e terca foram dias chuvosos. Segunda nevou em toda a Espanha, menos aqui nos litoral, mas tinha um puts vento suli, créds. Depois de colocar o sonho em dia, eu, Marina e a mexicana Líbia fomos passear no Centro Histórico da cidade. Incrível como tinha pessoas nas ruas, embora o comércio todo estivesse fechado e não tinha nada de muito especial acontecendo, tipo uma feira de rua nem nada.

Passeamos pela Plaza Del Ayuntamento, Plaza Del Reigna Sophia, e fomos até a Catedral. Depois de umas fotos ao fim de tarde, um agradável cafezim no cássico gringolândia Starbucks, e seguimos passeando.

Muitos turistas pela rua, e decidimos subir na torre da Catedral Metropolitana, um dos pontos mais altos da cidade. Torre Del Micalet: Segles XIV-XV, alturas: Campanes, 37m. Terrat, 51m. Total: 70m. Apesar de ser a terceira maior cidade espanhola, Valencia não é uma cidade muito densa, e certamente não é muito vertical, já que uma das maiores alturas é a tal torre de 70m.

Porta de entrada da Cadetral Metropolitana

De lá se pode ter uma visão bem boa da cidade, pegamos um dos melhores horários, aquele pôr do sol no horizonte e as luzes da cidade se acendendo. É curioso ver a cidade bem do seu centro, no coração da parte medieval da cidade. O tecido urbano bem denso, completamente irregular da Ciudad Vieja, seus casarõeszinhos de 3,4 pvtos uns em cima dos outros com seus telhadinhos cheios de antenas e varais. Ao longe, percebe-se a massa de edifícios mais altos dispostos regularmente no tecido urbano com suas largas avenidas rasgando a cidade. Iluminados, os antigos portões da cidade medieval se destacam na paisAGE bucólica contrastando com edifícios mais recentes. Do alto ficam evidentes as poucas praças medievais que representam o pouco do espaço vazio entre o cheio denso dos edifícios.

Vista da malha urbana medieval do alto da torre da catedral

Depois de quase ficar surdos com o tal sino da torre que resolveu tocar pelas 19h, íamos voltando pro centro pra comer e voltar pra casa, quando nos deparamos com uma pequena fila se formando do outro lado da rua do tal Starbucks. Perguntamos o que era e nos disseram que era um tradicional show de Flamenco, que era um dia especial porque mais gente ia cantar e dançar que as apresentações normais, por ser Valentine`s Day. Entramos na fila sem hesitar, um pouco de cultura local não faz mal pra nadie. Pagamos dez euros e conseguimos ficar sentados nas cadeiras, porque logo entro mais gente que foi ficando de pé. Três cantores, dois percussionistas dois violeiros performavam um belo conjunto de músicas típicas, com um leve, porém intenso e inebriante dedilhar tradicional espanhol enquanto duas dançarinas BEM espanholas e um garotinho de uns 11 anos se revezavam dançando flamenco no pequeno palco. Foi emocionante, sentir aquela musicalidade toda, aqueles passos flamencos de tamanha intensidade que embalavam todos convidando a umas discretas palmas-de-acompanhar-ritmo espalhadas pelo salão. Depois de quase 3 horas de espetáculo, voltamos de taxi pra casa, pois já não tinha metro a meia-noite-e-pouco de domingo. A câmera da marina, a única com bateria de nós três, não gravava som. Consegui gravar alguma coisinha com o ultimo suspiro da minha câmera antes de acabar a bateria de vez.

Espetáculo de Flamenco

Sábado de Chuva

Depois de uma noite muito da mal dormida, acordei pelo meio dia e fui direto comprar coisas nos Chineses. Lá é tipo um camelô-1,99, mas o bom é que tem bastante artigos pra casa. Comprei um monte de coisas: cobertor, travesseiro, cesto-de-roupa-suja , cabides, lixeira, muralzinho de cortiça, etc etc.
Voltei pra casa pra encontrar Marina e Libia pra irmos ao centro. As lojas de lá estão com REBAJAS pra todos os lados, são as liquidações de inverno daqui. Pude encontrar umas coisas muito baratas como calça a 10 euros, camisetas a 3 e 6 euros, moleton com um terço do preço. Não sei se é por causa da crise, mas achei as peças baratas aqui na Espanha, lembrando sempre que deve-se procurar bem. (haha!)Como nos perdemos lá no centro, voltei pra casa sem Marina e Libia, que ficaram nas lojas por mais tempo. Fui encontrar com a Sabrina e suas amigas Islandesas, que tinhamos combinado de ir ver os shows gratuitos promovidos pela MTV espanhola para a terceira edição do MTV Winter Valencia. Esse ano teve Fuzzy White Casters, Lightspeed Champion, Mystery Jets e a atração principal Arctic Monkeys. Ano passado teve Franz Ferdinand, e na primeira edição The Cure, todos de graça. Esses shows acontecem em uma super estrutura montada na Cidade das Artes e Ciências, notório complexo arquitetônico projetado pelo valenciano Santiago Calatrava. O show foi incrível. Só de passear por entre aquele monumental conjunto arquitetônico todo iluminado, repleto de gente passando frio por um mesmo objetivo, o show de graça num puta lugar incrível. Tava bem cheio e bem frio, mas foi massa, Arctic Monkeys realmente sabem fazer show ao vivo (fotos).
Sai do show e voltei a encontrar Marina e Líbia no bar/balada Walk About. Aqui esse tipo de baladinha é de graça pra entrar, toca músicas muito diversas e todo mundo fica se acotovelando dentro de um enfumaçado ambiente que termina perto das 3 e poco, diferente dos grandes Clubs. Aqui se escolhe deixar toneladas de casaco no guarda volume ou em ganchinhos espalhados embaixo dos balcões, correndo risco de ter alguns de seus pertences roubados, porque a galera rouba mesmo!
Show do Arctic Monkeys na Cidades das Artes e da Ciência
Libia, Gabriel e Kanye West na balada

Sexta-feira à casa

Como adoro fazer mudança (not), resolvi sair do chiqueirinho fedido que me hospedei por umas 3,4 noites e resolvi me mudar de vez prum lugar definitivo. Achei um apartamento bem bom por aqui, um quarto um mais ou menos do mesmo tamanho que eu ficava no chiqueirinho, de uns 3x5m. Abaixo fotos! Mas o diferencial desse novo, é a vista, a proximidade da faculdade, a proximidade também com o metrô, e sobretudo, o preço. Os preços aqui em Valencia se pareceram mais baratos do que fiquei sabendo. Em Sevilla, por exemplo, Thais e Lisa me disseram que os preços tavam quase o dobro dos daqui. Milano, pelo que a Maju tava me dizendo, também eram um pouco mais caros. Enfim, pagava 200 euros mais gastos (luz, gás, internet) pelo quarto chiqueirinho. Ficava na cobiçada Av Vicente Blasco Ibañes, e dava uns 15 minutos até a UPV, mas era bem pequeno. Agora nesse aqui vou pagar 140 euros mais gastos - que não passam de uns 25 por mês - e fica mais perto da estação de metro, das meninas da Polo y Peylorón e claro, da faculdade. Aqui moram dois caras um pouco mais velhos, nenhum universitário: Santa, um venezuelano chef de cozinha de uns 28 anos; e Davi, um equatoriano artista plástico de uns 30 e poco. Parecem-me buena gente, mas fumam na sala e me obrigam a me isolar aqui no quarto para não respirar fedor. Depois de fazer aquela bela faxina de novo, fui dormir muito tarde de sexta-feira, não tendo forças pra me mover, mesmo sabendo que as baladinhas aqui em Valencia não começam antes da 1h da matina. O problema é que eu não trouxe cobertor na mala. Por sorte, coloquei um jogo de lençóis e fronha na última hora. Aqui está fazendo noites muito frias! Tem um puts vento e de madruga, as temperaturas baixam muito. Resumindo, coloquei quase todas as roupas que tinha e fui dormir me cobrindo com um mero lençol, fazendo um moleton de travesseiro. Tremi de frio a noite toda, fiquei me contraindo e acordei todo dolorido. Sabe essas noites que a gente não dorme bem, quando consegue só sonha com desgraça? Poisé, sonhei que tinham roubado meu carro no Brasil, que o mar estava uns dois metros mais alto em Florianópolis e que tinha quebrado bem feio o dente da frente. Aliás, não é a primeira vez que sonho que quebrei o dente da frente e sempre fico morrendo de agonia. Será mesmo que isso é algum tipo de trauma? Vou jogar no Google e ver o que Freud teria a dizer sobre isso...

vista de cima da cama, vista da janela e da porta de entrada
Decoração contemporânea: Absolut Adds

Sexta Feira ao Porto


Depois de aulas em espanglês da facool, Sabrina me pegou de carro e fomos ao Porto da cidade conferir a 33 edição do America`s Cup, considerada a fórmula 1 da Vela. Sabrina é outra menina de Florianópolis que está aqui por meio de um intercâmbio com sua faculdade estadunidense, donde ganha bolsa atleta por jogar vôlei. Ela tinha alugado um carro pra levar sua prima até Sevilla, onde vai estudar. Como tinha o carro até sexta, me convidou pra ir ver o agito do America’s Cup. Essa é a competição considerada a Fórmula 1 da vela, e desde uns 5 anos, Valencia foi escolhida Cidade Sede dessa competição anual. Chegar lá foi fácil, Sabrina comprou um GPS, mas aparentemente Paulo também tinha suas falhas de localização. Estacionamos perto da rua, o que nos possibilitou passear a pé pelo trajeto todo onde estavam os equipamentos da Cup. Aparentemente é um puta evento, cheio de patrocínios, e cheio de gente, em plena sexta feira a tarde, com muito vento frio. É nessa mesma area que acontece o circuito urbano de F1 de Valencia, então acho que como cartão postal da cidade, só podia ser assim mesmo: É uma zona portuária digna de país de primeiro mundo. Tudo é muito limpo, bem arborizado com suas palmeiras típicas, bem organizado e bem cuidado, pelo menos nessa parte do Porto. A Zona Portuária de Valencia é grande, mas essa parte que visitamos é do lado da praia onde todos se banham no verão, e não podia ser diferente em termos de organização/limpeza. O resto do porto, que se desenvolve mais ao Sul, se vê no Google maps com uma grande área de estacionamento de containers, que ao que me parece, configura um compreende um porto de grande movimentação e importância. Até porque daqui saem balsas à Elvissa (Ibiza), Palma de Mallorca, e Menorca. Mas vale o espetáculo, ainda mais por conta do edifício-símbolo: o Edificio Veles e Vents (America's Cup Foredeck Building) de David Chipperfield Architects.

Um vento desgraçadamente frio congelava a orelha de todo mundo, enquanto uns comiam, outros olhavam o telão com a narração da Cup, uns passeavam... mas certamente todos passavam frio. Achei interssantchi o fato deles terem barraquinhas com comida típica de alguns países, que certamente entraram como patrocinadores para fazer mais alarde à suas equipes. Tinha barraquinhas de comida suíça, estadunidense, espanhola. Entre tapas e paella, eu e Sabrina ficamos com a segunda opção, que logo esfriou devido ao vento.


Mundança Parte II

Estava me concentrando tanto em buscar apartamento que apesar de ir todos os dias pra faculdade tentar resolver minha matrícula, só conseguir completar ela quarta feira, sendo quinta-feira meu primeiro dia de aula. As aulas de verdade haviam começado segunda-feira, mas depois de falar com os professores na semana seguinte, veria que na verdade nao perdi nada. Empolgado com a história toda de ir da facool ao apatamento, gravei um vídeo do caminho que eu percorria entre os dois, em umas das minhas idas e vindas da facool, mostrando e comentando as coisas do trajeto. Mesmo assim, não estava feliz com o apartamento. Até para dormir era um sacrifício. Eles me emprestaram uns cobertores IMUNDOS e claro, fedidos, pois nao tinha nenhum. Passei muito frio na primeira noite porque estavam molhados de eu os colocar pra lavar. O chuveiro tinha um timer-ecológico (not): a cada dois minutos a água esfriava absurdamente e resfriava o banheiro que custava a ficar quentinho de vapor. Foi depois que caiu a ficha que eu tava sendo tanso demais de ficar naquelas condições. Ninguém nunca lavava a louca, o banheiro era nojento, não tinha um cronograma de revezamento pra limpeza – o que é bastante comum num apartamento dividido por erasmus - e não tinha nenhum indício de limpeza constante. Quando me instalei, perguntei se tinha material de limpeza e eles não sabiam o que era/pra que servia a água sanitária. Quando as meninas foram visitar, Líbia nao conseguiu ficar muito tempo, pois tem alergia a poeira e assim como Marina ficaram com pena de mim pelo cheiro. Saí em busca de um novo apartamento, procurei novamente no site loquo.com, visitei alguns e gostei bastante de um deles. Ao invés de pagar os 200 que eu viria a descobrir que não incluía os gastos extras, achei um muito melhor por 140 euros. Como ainda não tinha falado com a dona do atual, não tinha pagado nada pelo chiqueirinho que estava. Mas digamos que a senhora faxina que fiz lá no quarto me valeram a diária enquanto estive lá. Resolvi me mudar e de tão não empolgado que tava, nem tirei foto do quarto para posteridade.

Parque Jardin del Turia

Vou abrir um parênteses para explicar algumas coisinhas da cidade. Ainda não tive tempo de pegar uma bicicleta e percorrê-lo todo, mas vale a informação. O parque Jardim Del Turia é um grande parque linear que corta a cidade de Valencia. Ele uma vez já foi um rio. Mas aqui no Leste da Espanha é comum um ciclo de chuvas não sazonal. Típico de clima mediterrâneo, não chove muito durante o ano todo. Mas de tempos em tempos, dá uma chuva gigantesca absurda e tudo inunda. Valencia, assim como outras cidades banhadas pelo mar mediterrâneo, já sofreram bastante com isso. Aqui o rio Turia, que cruzava a cidade, era um filete de água que cruzava um largo canal de concreto no centro da cidade, parecido com os outros rios europeus. Mas depois de uma segunda inundação gigantesca em 1957, muita gente morreu e muito se perdeu, optou-se por desviar o rio antes que ele chegasse a malha urbana valenciana. Agora ele passa um pouco mais ao sul da cidade, de novo por uma calha de concreto, mas agora com dimensões e localizações apropriadas para que não cause danos a cidade. Ao mesmo tempo que não há dúvidas que a cidade ganhou e muito com a implementação dos Jardines Del Turia, é uma lástima que a cidade perdeu total relação com o rio que a cruzava suas ruas. Ao invés de se fazer um tratamento de bordas, criação de algumas soluções para amenizar as enchentes do rio a exemplo do que fez muitas cidades mundo afora, decidiram quase que apagar o rio da memória da população recolocando-o entre duas avenidas de alto fluxo, à la Rio Tietê, longe do convívio diário. Foi nos anos 90 que se implantou o parque.

Um parque linear é “uma medida sustentável de uso e ocupação das áreas de fundo de vale urbanas, nos âmbitos ambientais, sociais, econômicos e culturais”. Esse tipo de parque faz uma trama ampla e conectada de aeras verdes em meio ao tecido urbano, e com ele, pode-se deslocar-se de um canto a outro da cidade de forma agradável e sustentável, pois ao invés de o fazer percorrendo a cidade pelas ruas, o fazendo pelo parque te traz uma sensação de estar imerso ao verde e ainda com a possibilidade de o fazer de bicicleta. Pois assim acontece com o Jardin Del Turia. Aqui concentram muitas atividades de lazer e esporte, como quadras de esporte, skate parks, parques infantis, pista de caminhada, ciclovias, mas também uma infinidade de áreas de estar com fontes e uma infinidade de árvores, palmeiras e canteiros floridos plantados ao longo de surpreendentes quase 10km. Um grande destaque para o Parque Gulliver, um gigante (haha) brinquedo infantil no meio do parque. No Gmaps se vê um gigante amarrado por cordas, onde as crianças podem subir e descer nele. O Jardim Del Turia, projetado por Ricardo Bofil, foi apelidado de Rio Cultural, pois ao longo de suas “margens”há uma infinidade de atividades e centros culturais, a começar pelo Zoológico que está em uma de suas extremidades, passando pelo Jardim Botânico, Palácio da Música, Cidades das Artes e das Ciências, Oceanográfico (o maior da Europa) e terminando na Zona Portuária, onde ali ainda corre um filete de água.

Foto by me: Jardin do Turia visto de uma das pontes do Calatrava, por sobre o metro projetado também por ele (Alameda)

Foto aérea do jardim: Aqui se vê as pontes que cruzavam o rio e ao fundo o Palácio da Música e a Cidade das Artes e Ciência